Elizabeth Caldeira Brito
Para a aquisição do conhecimento operativo os instrumentos são a arte, a cultura e a literatura. Nelas a existência humana se revela, se desvela e se desnuda como é e no vir a ser da vida. A arte mobiliza e motiva o homem a se apossar da vida de forma autêntica. A procura do saber nos remete às origens.
Assim fez o Professor Álvaro Catelan, cuja voz é hóspede da memória auditiva, evocativa e recente, de grande parte de nós. Ele iniciou seus trabalhos em Goiânia na Rádio Difusora, onde ocupava poeticamente, as tardes da tranqüila e bucólica Goiânia dos nossos sonhos. Invadiu sonoramente, com poesias, mensagens e belas melodias os nossos sentimentos, através da Rádio Brasil Central, RBC-FM e Mil FM. Formou-se em Letras vernáculas. Professor de Literatura. Há décadas é pesquisador da cultura popular do Brasil. Contribui com seus estudos, conferências, publicações e programas para manter viva, na memória do nosso povo, a música caipira (não confundir com sertaneja, urbaneja ou country) com sua beleza e sonoridade poética plural, dando a oportunidade, aos que procuram o saber, de encontrar na identidade cultural de nossa gente, as nossas raízes históricas, culturais e nossas tradições.
Retratando a realidade do homem simples do campo, a música caipira e a viola traduzem o perfil e a identidade do homem brasileiro: com seu trabalho, lazer, comportamento, dificuldades, sonhos, mitos, religiosidades, crendices e lendas, presentes em nosso inconsciente coletivo, através dos imensos quintais enluarados de nossas lembranças, nos banhos de rios e cachoeiras de nossos domingos virtuais, no cheiro do mato verde em nossa saudade e nos sonoros regatos, fluindo nas varandas de nossas recordações.
Todos os domingos pela manhã, mergulhávamos nestas memórias, sentindo o sertão dentro de casa e vislumbrando um ideal de preservação de nossa cultura, através do programa de Álvaro Catelan Cantos do Brasil e Recantos de Goiás, líder de audiência no horário das 7h às 9h, na emissora estatal RBC-FM, agora sob nova direção do radialista Paulo Francisco Ferreira, Gerente Geral e “modernizador” da empresa que é do povo e para o povo. Visando “optar para uma programação elitizada, classe A” determinou que fica proibido a execução de “música caipira” durante o dia, ceifando, esta magnífica iniciativa de resgate, preservação e difusão de nossas raízes por uma emissora governamental.
Assim, nesta modernidade goiana, não seremos mais despertados, bucolicamente aos domingos, pelo mestre Catelan. Não teremos doravante, a oportunidade de acordar e continuar sonhando, na companhia do sertanejo, no oitão da casa, a contemplar a lua, ponteando sua viola, na alma que se despedaça nas cordas doloridas - Relembrando Claudino Silveira na abertura de seu belo programa No Mourão da Porteira pela rádio Difusora de Goiânia.
E Goiânia se moderniza em todos os aspectos. Segue perdendo seu legado histórico, cultural, arquitetônico e urbanístico. Vozes isoladas que ainda resistiam... Emudeceram mais uma.
Namastê.
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