Elizabeth Caldeira Brito

Elizabeth Caldeira Brito
Casa de Campo em Alhué - Chile. Fotografia de Elciene Spenciere

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Goiânia, Goiás, Brazil
Elizabeth é Psicóloga, Professora de Educação Física e escritora. Sócia Titular-Cadeira 07 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Membro da Academia de Letras do Brasil. Diretora Regional do InBrasCI - Instituto Brasilieiro de Culturas Internacionais. É Conselheira do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de Goiânia. 2ª vice-presidente da Comissão Goiana de Folclore-UNESCO. Obra: Dimensões do Viver, poesias - 2004; Quatro Poetas Goianos e um Pintor Francês, biografias - 2004; O Avesso das Horas & Outros - El reverso de Las Horas y Otros - L'Envers des Heures & Autres, Edição Trilingue, poesias - 2007.Traduções de Yvan Avena (para o idioma francês), Perpétua Flores e Ana Maria Patrone (para o idioma espanhol). A cultura plural de Bariani Ortencio (org) Kelps, 2009. A vinda da Família Real para o Brasil-200 anos (org.)Kelps, 2009. Permanências , artigos, Kelps/UCG -Goiânia 2009.Santuário da Cultura Universal, ensaios, Kelps - Goiânia, 2010. Amayáz, poesias, Kelps, 2012. Formação de Goiás Contemporâneo, (org) artigos. Kelps, 2013. FOTOGRAFIA DE MONIQUE AVENA

domingo, 27 de junho de 2010

AMAURY MENEZES EM EXPOSIÇÃO DE ARTE E VIDA



Elizabeth Caldeira Brito.

Ao visitar a exposição do artista plástico “Amaury Menezes 50 anos de pintura” na Pontifícia Universidade Católica de Goiás, mais que as preciosas 160 obras de arte expostas do artista, pode-se apreciar Amaury Menezes por ele mesmo. Em “Páginas esparsas de uma agenda” Amaury se mostra. Nas impressões sobre arte, vida, pessoas, emoções, afetos e relacionamentos, filosofa. A “agenda” são páginas selecionadas de seu universo de registros, numa harmonia de palavras, imagens e cores. Ilustrações em aquarelas e sentimentos registram a data e sua importância afetiva e histórica. Em quatro painéis de 122x81cm, contendo nove páginas de “segredos de in-confidências”, Amaury se expõe. Em letras coloridas e dinâmicas o artista diz a que veio. Escancara sua leitura do mundo, sua sensibilidade, seu apego à vida e à arte que o completa.
No dia 25/07/2000 Amaury registra: “Setenta anos não é mais idade para ser lastimada, mas uma data para ser agradecida e festejada”. No dia 12/03/2000 lastima a perda de um grande amigo: Cleber Gouveia. Ao lado de seu retrato em aquarela, Amaury desabafa: “Se tivesse com sua pessoa a disciplina que tinha com sua pintura, ainda estaria entre nós. Seu corpo refletia a dimensão da arte” e continua: “Lamento também ter demorado a perceber o quanto éramos amigos...”.
A data 13/02/2001 descreve como sendo o dia em que sob disfarce chorou. “...Pela primeira vez na vida fui aplaudido de pé e acho que não consegui esconder minha emoção. Disfarcei e chorei”. Explica: quando levou o currículo e aceitou o convite para voltar a lecionar na Faculdade de Arquitetura da Universidade Católica de Goiás, chegou no momento de uma reunião de congregação. Diante dos professores, Saida Cunha anunciou sua presença. Naquele instante sentiu-se “alguém, e alguém de valor”. Os aplausos recebidos foram com entusiasmo e genuinamente espontâneos.
Ao completar 71 anos, em 25/07/2001, conclui: “Lutando para conseguir chegar à velhice, não percebi que fiquei velho”. Com sabedoria profetisa: “Tenho bem menos que 71 anos, pois os dias que não foram bons não devem ser contados”. Naquele ano Amaury “risca” alguns dias de sua agenda. Não de sua memória: de 18/02 a 04/04 ocorrem grandes dissabores ao artista, cujas anotações registram, além da data riscada: “A maledicência se transforma em convicção tal como o preconceito se converte em dogma.” Continua: “o rancor só fere a quem guarda.” Ainda: “Sei que não sou depressivo porque torço para o dia amanhecer, e não tenho medo da noite. As noites servem para os sonhos.” Conclui: “Mais forte que o rancor é o perdão que não é concedido”.
Em 03/05/2001, afirma que “tenho saudades de momentos não vividos”. Diz das idades por que passou: “folheando um velho álbum de fotografias, revi, revivi e tive todas as idades.” Em 25/05/2003, página com retrato em aquarela de José Mendonça Teles, então presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, registra sua satisfação e responsabilidade: “Uma posse na cadeira 25 do IHGG, que encheu de orgulho a minha família.” Sentencia: “Hoje eu me senti um monumento, não só pela dimensão da hospedagem, como também pela contribuição que esperam de mim para a memória de minha terra.”
Este artigo será concluido no texto: AMAURY MENEZES O HOMEM QUE HABITA O MITO, logo a seguir...

Namastê

AMAURY MENEZES O HOMEM QUE HABITA O MITO


AMAURY MENEZES O HOMEM QUE HABITA O MITO

Elizabeth Caldeira Brito

Para concluir este artigo, resgato o primeiro parágrafo utilizado no artigo AMAURY MENEZES EM EXPOSIÇÃO DE ARTE E VIDA texto que dá inicio a este.
"Ao visitar a exposição do artista plástico 'Amaury Menezes 50 anos de pintura' na Pontifícia Universidade Católica de Goiás, mais que as preciosas 160 obras de arte expostas, pôde-se apreciar Amaury Menezes por ele mesmo. Em 'Páginas esparsas de uma agenda' Amaury se mostra. Nas impressões sobre arte, vida, pessoas, emoções, afetos e relacionamentos, filosofa. A 'agenda' são páginas selecionadas de seu universo de registros, numa harmonia de palavras, imagens e cores. Ilustrações em aquarelas e sentimentos registram a data e sua importância afetiva, histórica e iconográfica. Em quatro painéis de 122x81cm, contendo cada um, nove páginas chamadas de “segredos de ‘in-confidências’ ”, Amaury se expõe. Em letras coloridas e dinâmicas o artista diz a que veio. Escancara sua leitura do mundo, sensibilidade, apego à vida e à arte que a completa."
No dia 17/04/2005, a diva da música Belkiss Spencieri deixa esta dimensão. Ao lado do retrato em aquarela de Belkiss ao piano, as anotações: “Perdi uma grande amiga, mas a perda foi de Goiás que ficou sem a mais importante pianista de sua história.” Na página, cujo registro marca a data de 25/07/2005 contém, em destaque,o número 75 múlticolorido. Nela contém tristes e criativas conclusões: “Conseguir chegar à velhice é benção. Ficar velho é punição.” “Ao completar 75 anos sou agraciado com uma série de honrarias: Artista Plástico do FICA; Capa das Telelistas; Troféu do Arthur Rezende; Comenda da Ordem Anhanguera e Patrono da Arquitetura. Acho que julgando já não me restar muito tempo pretendem me homenagear em vida.” Poeticamente afirma: “agora não tenho muito que fazer. Ainda estou aprendendo a ser velho.”
Em 05/11/2005, em página de flores cores e o jovem casal em bodas, comemora: “50 anos de um enlace que aconteceu, frutificou e criou uma poesia cujos versos ninguém escreveu.” e ainda: “Sabemos que valeu a pena quando vemos transformadas em saudades as nossas lembranças.” Para ele “a grande prova é aquela que ainda não foi dada.” Finaliza o dia confessando ao mundo: “outras mulheres passaram em minha vida, mas só participaram da minha juventude e não fizeram parte das minhas esperanças.”
O ano de 2008 é lembrado. No dia 25 de julho, dia do seu aniversário, perfuma de cores sua agenda de memórias. Em página multicolorida, com flores, muitas flores, escreve: “Um balde de flores ainda é pouco para celebrar a sobrevivência.” Afirma: “com 78 anos ainda sou capaz de fantasiar.” Festeja: “Conservo meus sonhos, nunca sabemos quando vão nos faltar.” Racionaliza: “Quando eu morrer param os meus sonhos.” Finaliza o dia com suas dúvidas e conclusões: “Sempre tive diversas convicções fixas. Agora quanto mais o tempo transcorre, menos certeza tenho de qualquer coisa.”
Ao completar 79 anos de vida, em 25/07/2009, pondera: ”Todos desejamos chegar à velhice, mas recusamos aceitá-la.” Percebendo o recuar dos sonhos para dar lugar às lembranças, se entristece: “Percebi que estou ficando velho quando vi que gasto mais tempo com meus arrependimentos do que com meus sonhos.” Escreve em destaque: “NÃO QUERO SER ESQUECIDO.” E finaliza: “Acredito que se falarem de mim me fariam viver para sempre em suas palavras.”
Muito se tem falado e escrito sobre Amaury Menezes. Registramos aqui um pouco da grande figura humana que habita o mito. Há muito o que comentar e escrever sobre sua extensa obra e trabalho em prol da cultura de nosso estado.
Mesmo no silêncio da palavra e no aconchego das lembranças, sua arte e íntegras atitudes, hão de perpetuar sua existência além das nossas. Por muitos e muitos séculos... Amém!

Namastê.

MULHERES DESTE TEMPO



Elizabeth Caldeira Brito

“Daqui a cinco anos você estará bem próximo
de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto por duas coisas:
os livros que ler e as pessoas de quem se aproximar.”
Charles Jones

Recorro a Charles Jones para abordar contemporaneidades. Convivências e proximidades que promovem evoluções. Dentre várias personalidades que merecem destaques, ressalto quatro nomes da literatura e da história goianas. Pessoas que honram com suas presenças o presente. Mulheres que traduzem o conhecimento, a cultura, a história, a pesquisa e a memória, em literatura brasileira de qualidade, produzida em Goiás. Desfrutar o tempo e o espaço, saber possível o alcance visual, auditivo e o toque de gestos, enobrece os transeuntes dos caminhos de agora. Refiro-me a Ana Braga, Moema de Castro, Lêda Selma e Lena Castello Branco.
Ana Braga é tocantinense de Peixe. Professora, escritora, historiadora, advogada e exímia oradora, foi a primeira mulher goiana eleita vereadora, empossada em 1947 na primeira Legislatura Municipal de Goiânia. Em 1959, elegeu-se deputada estadual por Goiás. Defensora ferrenha do ideal de conquista da emancipação feminina em nosso estado, conhece indiscriminadamente, a extensão do norte goiano e a brava luta daquele povo por liberdade. Foi Procuradora Geral do Estado de Goiás, uma das fundadoras da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás – AFLAG. É membro da União Brasileira de Escritores de Goiás - UBE-GO, do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás - IHGG, da Academia Goiana de Letras - AGL, dentre outras. Mulher além de seu tempo a desbravar caminhos com sabedoria, história e conhecimento ao alcance dos nossos sentidos.
Moema de Castro e Silva Olival é goiana da Cidade de Goiás, nascida em nobre berço de cultura, conhecimento, arte e dinamismo, preserva e difunde com honra, sua herança cultural. Legado dos pais Colemar Natal e Silva e Genezy de Castro Silva. Doutora em Letras Clássicas e Vernáculas pela USP, foi professora, fundadora e primeira Coordenadora do Centro de Estudos Portugueses da UFG. Escritora, ensaísta e crítica literária premiada como o troféu Tiokô da UBE-GO. Recebeu do presidente de Portugal, a Ordem do Mérito, em grau de comendador. Membro da Academia Brasileira de filologia, da AGL, do IHGG, entre outras. Dinamizadora cultural, mantém viva a saga de cultura herdada de seu augusto pai.
Lêda Selma, baiana de Urandi, veio menina para Goiânia. Produtora cultural e professora, formou-se em Letras Vernáculas na UCG. Pós graduou-se em Linguistica na UFG. Exímia escritora, publicou mais de uma dezena de livros. Cronista da vida e dos trejeitos humanos, fotografa com lirismo, o dia a dia de dores, conquistas e humores goianos. Suas crônicas de sábado, no Diário da Manhã, são comentadas e aguardadas tanto quanto um fim de semana promissor. Foi condecorada com os títulos de Cidadã Goianiense, pela Câmara Municipal de Goiânia e Goiana, pela Assembléia Legislativa do Estado de Goiás. Imortalizou-se pela AGL.
Lena Castello Branco Ferreira de Freitas, nasceu em Parnaíba no Piauí, desde 1949 reside em Goiânia. É historiadora, professora, pesquisadora e escritora premiadíssima. Doutora em História Social pela USP, há mais de 50 anos dedica-se à educação e ao estudo histórico da goianidade, na construção da memória histórica do Brasil. Foi professora titular na UFG onde criou os cursos de Mestrado em História e em Letras e ainda auxiliou na fundação do Museu Antropológico. Atuou em Brasília na Assessoria do Ministro de Estado da Cultura, no Conselho Federal de Educação e na direção do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Recebeu os títulos de Cidadã Vilaboense e Goianiense. Participou do Conselho Federal de Educação. É cronista semanal do Diário da Manhã. Seus textos, às terças-feiras, são (a)guardados com ânsia de pesquisa. Pertence ao IHGG e a AFLAG, entre outras.
Fernando Pessoa afirma: “para ser grande, nada teu exagera ou exclui. Sê como a lua, que em todo lago brilha, porque alta vive.” Ana, Moema, Lêda e Lena, nada exageram ou excluem. Assim como a lua, altas vivem. Brilham “em todo lago”, iluminando os que “se aproximam” ao encontro de encantos e conhecimentos. Presenças na contemporaneidade de hoje e na leveza de ser. Vozes de sinceridade marcante, saber disponível e experiência em destaque. Mulheres deste tempo que orgulham e honram goianos. Aqui e agora contribuem, duplamente, para a evolução e mudança pessoal. Aquela em que Charles Jones se refere na epígrafe.

Namastê.

INSTANTES DE SAUDADE

Elizabeth Caldeira Brito

Convidados a participar de confraternização do Dia das Mães, estivemos em espaço paradisíaco nos arredores da cidade. Um sítio bucólico cercado de mato verde e água cristalina em abundância. As crianças esbaldavam-se nas braçadas de liberdade aquática. Os adultos encharcavam-se de histórias e reminiscências.
As irmãs Benedita e Sebastiana, únicas dentre vários irmãos, regozijavam-se por reunir a família e amigos em momento tão oportuno: o sábado que antecede e o domingo dedicado às mães.
Benedita de Oliveira Mariano e Sebastiana de Oliveira Dorneles são matriarcas. Aglutinam e proporcionam união, aconchego e harmonia entre as famílias e os amigos. Apesar da frágil saúde, estavam felizes. Reviviam momentos da infância, confrontando lembranças de memórias evocativas. Divertindo a todos com as diferentes percepções de uma só recordação.
Sebastiana é viúva de João Divino Dorneles, cuja vida dignificou a política goiana nas décadas de 70 e 80. Foi Deputado Estadual e Federal. Dedicou seu tempo às causas dos mártires da ditadura militar. De atitudes idealistas, ousadas, coerentes e destemidas foi o fundador e primeiro presidente do Comitê Goiano pela Anistia. Organizou, juntamente com o então vereador José Elias Fernandes, um manifesto pela anistia. Colheram milhares de assinaturas. João Dorneles marchou a pé até Brasília a fim de entregar o documento ao deputado Ulysses Guimarães. Mobilizou a imprensa para seus objetivos referentes à caminhada, que durou vários dias, obtendo grande repercussão na mídia nacional. Iniciava-se, assim, a campanha que se estendeu a todo o país, e culminou com a aprovação da Lei de Anistia em agosto 1979.
João Divino Dorneles merece destaque na memória política de nosso estado. Esquecido por muitos, inclusive pelos que se beneficiaram com seus ideiais políticos, foi lembrado, recentemente, pelo jornalista Fleurymar e pelo ex-deputado José Elias Fernandes, em artigos publicados no Diário da Manhã, onde reivindicaram fosse erigido, em sua homenagem, um “pedestal”.
Minha amizade com Benedita Mariano surgiu por meio das filhas, Fátima de Jesus e Glória Mariano, empresárias, esta última, escritora. Jamais imaginaríamos que aquele seria nosso último encontro (eis o mistério da vida). Dois dias depois, ela se foi para o infinito. Quanta saudade de suas histórias, sua dedicação ao folclore goiano, e a grande paixão pela vida compartilhada, ininterruptamente, com João Lúcio Mariano, o companheiro de sempre. Doravante, “Dona Dita” habitará nossas vozes de lembranças em instantes de saudades... E uma estrela a mais há de iluminar as noites goianas.

Namastê.

O CRISTAL QUE RELUZ NA CULTURA GOIANA




Elizabeth Caldeira Brito

Neste espaço procuro abordar temas referentes à cultura de nosso estado, de nosso país e às vezes da América Latina. Este artigo pode parecer, mas não é diferente.
Estar aqui, desde sempre, nos faz testemunhas de conquistas por alguns habitantes destas plagas. São vitórias que nos enchem de orgulho, especialmente quando a memória nos revela, dentre poucas, uma trajetória de grande ascensão, sem, contudo, a perda do referencial humano, religioso e dos valores morais, éticos, sociais e culturais.
Refiro-me a dois rapazes e uma empresa. Os conheci em minha infância na “Vila” de onde nunca saí. Ela mudou seu perfil e seu nome: de Vila Operária a Setor Centro Oeste. Eles voaram alto, sem sair do solo goiano. E não esqueceram suas origens, a gratidão à família e às divindades que sempre os guiaram.
Os irmãos Walterdan Fernandes Madalena e Waldir Fernandes Madalena são os proprietários da empresa que leva o nome de Goiás para o Brasil e o mundo em qualidade e excelência: a Cristal Alimentos, detentora do Arroz Cristal, dentre outras. A empresa originou-se na Vila Operária. Aquela que tinha um bar que se chamava liberdade, na música de Siqueira e Renato Castelo, cantada por Marcelo Barra que, aliás, é o garoto propaganda da empresa, juntamente com a atriz Regina Duarte. Hoje, a marca é uma referência nacional no ramo de beneficiamento de arroz. “Possui o mais moderno parque industrial da América Latina, totalmente automatizado, sem, contudo, prescindir do ser humano, tratado em sua totalidade.” Nas palavras de seus empreendedores.
Walterdan veio para Goiânia, de Tesouro (MT), sua cidade natal, em 1957, para estudar. No ano seguinte chegou a família para atuar no comércio. Instalaram aqui uma pequena mercearia. Em 1966 os irmãos se uniram para o desenvolvimento do ideal de Walterdan Fernades. A primeira empresa “Comercial Amazonas” foi alavanca para o monumental complexo, que desde 2000, ocupa amplo e privilegiado espaço na BR 153, na cidade de Aparecida de Goiânia. O local, com mais de 130.000 m², inspira paz, tranqüilidade e harmonia em beleza arquitetônica. Belas carpas em águas límpidas e fontes de leveza e transparências recepcionam o visitante. O processo industrial funciona 24 horas por dia, ininterruptamente. A Cristal Alimentos é detentora de vários prêmios nacionais e internacionais. Continua expandindo atuações e espaço físico, um heliporto está em fase de conclusão.
Formado em Direito, Walterdan Madalena concilia uma visão futurista, de olho na modernidade tecnológica e administrativa, às suas referências místicas. Exímio estudioso e pesquisador religioso é líder de célula da Igreja Videira. Deixa rastros no mundo, em busca de tecnologia de ponta e de conhecimentos bíblicos. Arrebanha discípulos, que buscam o bem estar, a paz e o sucesso pessoal e comunitário. A Videira tem “o encargo de edificar uma igreja de vencedores, onde cada membro é um ministro e cada casa uma extensão da igreja, conquistando, assim, a geração para Cristo, através das células”.
Um acróstico com a palavra “arroz” define os objetivos da empresa: “A - Agradecer todos os dias a Deus pela oportunidade de viver uma vida produtiva visando o bem comum de todos os nossos colaboradores. R- Respeitar, valorizar e servir além dos nossos clientes, também os colaboradores, sócios, fornecedores e a nossa comunidade; preocupar e contribuir para, o seu bem-estar e operar com dignidade, de modo a merecer a sua confiança. R - Responsabilizar-se e manter sempre o alto padrão de qualidade, a fim de que o consumidor tenha na sua mesa o melhor arroz do Brasil; conduzindo os nossos negócios com honestidade. O - Os nossos produtos terão sempre a marca da qualidade arroz cristal que será obtida com o emprego da alta tecnologia existente no mercado e também da nossa vigilância constante em busca da excelência do produto. Z - Zelar e promover um trabalho gratificante, com uma compensação justa e um ambiente de trabalho agradável, que encoraje abertura, criatividade, autodisciplina e crescimento, envolvendo todos os colaboradores.”
Genuinamente goiana, a Cristal Alimentos sacia, não só a fome física do povo goiano e brasileiro, mas também, cultural e esportiva. Fomenta ações voltadas à cultura, a historiografia e ao esporte em Goiás. Seus proprietários acreditam nos honrados homens do passado que construíram futuros. Acreditam nos homens do presente e seu importante legado de arquivar memórias. Por acreditar nos ideais do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, de seus associados e da diretoria, sob a presidência do escritor Aidenor Aires, a empresa, mantém há tempos, patrocínio cultural e parceria com o Instituto Histórico, no trajeto de realizações e na guarda da memória histórica de Goiás. Pelos relevantes serviços prestados à cultura goiana, os irmãos Walterdan Fernandes Madalena e Waldir Fernandes Madalena, respectivamente diretor presidente e diretor comercial da empresa, receberam o título de Sócios Honorários da Instituição.
Humanistas, Walterdan e Waldir respeitam e valorizam o homem, a cultura, a história e a religiosidade. Merecem o nosso olhar de mesura, gratidão e reconhecimento.

Namastê.

A SINGULARIDADE DE SARAMAGO




Elizabeth Caldeira Brito

O único escritor, a compartilhar conosco a língua portuguesa, premiado com o prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, aos 87 anos, faleceu. Deixou-nos órfãos de seu universo sólido, criativo, polêmico e seu estilo único de ser singular.
Saramago publicou “Terra do pecado”, seu primeiro livro, em 1947. Depois ficou quase vinte anos sem publicar, após a rejeição do segundo livro pelo editor. Que permanece inédito. Afirmou que “não tinha nada a dizer”. Em 1966, quando sentiu “que tinha mais o que dizer”, voltou ao seu labor literário. Publicou três livros poéticos, para não mais cessar suas produções. Entre seus poemas destaco “Eu luminoso não sou”:
“Eu luminoso não sou. Nem sei que haja/ Um poço mais remoto, e habitado/ De cegas criaturas, de histórias e assombros./ Se, no fundo poço, que é o mundo/ Secreto e intratável das águas interiores,/ Uma roda de céu ondulando se alarga,/ Digamos que é o mar: como o rápido canto/ Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável/ O movimento de asas. O musgo é um silêncio,/ E as cobras-d’água dobram rugas no céu,/ Enquanto, devagar, as aves se recolhem.”
Em seu estilo inconfundível e sua forma de contar, produziu 35 obras entre: romances, ensaios, poesias, crônicas, traduções, memórias, teatro, jornalismo e infantil. É o autor de língua portuguesa, da atualidade, mais traduzido. Mostrou ao mundo Portugal e Brasil. Seu livro “Ensaio sobre a cegueira” tornou-se filme. Sob o olhar brasileiro do cineasta Fernando Meireles, levou o Brasil ao mundo em algumas locações.
Por quase dois anos Saramago manteve o blog “Outros cadernos”, no site da Fundação Saramago, onde reunia textos éditos e inéditos. Nele postava artigos e entrevistas que concedia. Em sua última mensagem, aos internautas, demonstrou descrença e preocupação com os contemporâneos, pela falta de filosofia, reflexão e ideias: “Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”.
Humanista, Saramago organizou seus objetivos para além de sua vida. Com a criação da Fundação Jose Saramago, expôs a preocupação com o seu acervo e com o futuro da humanidade. Deixou expressos desejos pessoais, na declaração de princípio para a Instituição, com sedes na Espanha e em Portugal. Para ele a Fundação deverá adotar como norma e conduta, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Dedicando-se, especialmente, às questões ambientais e ao aquecimento global do planeta, “os quais atingiram níveis de tal gravidade que já ameaçam escapar às intervenções corretivas que começam a esboçar-se no mundo.” E continua, “Bem sei que, por si só, a Fundação José Saramago não poderá resolver nenhum destes problemas, mas deverá trabalhar como se para isso tivesse nascido. Como se vê, não peço muito, peço-vos tudo”. Sentencia Saramago.
Crítico feroz do ser humano e da sociedade, somente aos 60 anos de idade, alcançou o reconhecimento e a notoriedade por seu talento literário, questões polêmicas e engajamento político. Era filho e neto de analfabetos. Homenageou o avô quando recebeu o Prêmio Nobel, em 1998. Afirmou que “o homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever”.
Para garantir seu sustento, formou-se numa escola técnica. Contudo, recebeu mais de quatro dezenas de títulos de doutor “Honoris Causa”, concedidos por Universidades portuguesas e estrangeiras e ainda o prêmio Camões (em 1995), o maior das letras portuguesas.
Ateu convicto, um de seus desafetos era a igreja católica. Acreditava que “Deus, o diabo, o bom, o ruim, tudo está na nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventamos. Não percebemos que, tendo inventado Deus, imediatamente nos escravizamos a ele”. Afirmava que não era “um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro”. Para ele todas as religiões são nocivas à humanidade.
A Igreja Católica em Portugal, pelo diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, padre Tolentino Mendonça, lamenta a perda do mais nobre desafeto do catolicismo. Afirmou que Saramago “ampliou o inestimável patrimônio que a literatura representa, capaz de espelhar profundamente a condição humana nas suas buscas, incertezas e vislumbres.”
O tímido e discreto José Saramago, disse em entrevista à BBC, que sempre foi “uma criança séria, melancólica”. E ainda, que sempre teve tendência de “ver o lado negro das coisas” disse acreditar “que as pessoas nascem com isso”. Para ele o “que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.”
Apaixonado pela vida, pelos livros e pela mulher, Pilar Del Rio, com quem se casou aos 63 anos. Ela, 25 anos mais jovem, conquistou-o, inicialmente pela idolatria a ele e a sua obra. Foi sua companheira até os instantes finais. Saramago afirmou em entrevista recente “que o mundo era tão bonito! Tinha tanta pena de morrer”.
Ele se foi de forma tranquila e serena. Deixou-nos com “pena” de nós mesmos. Acéfalos, perdemos um dos maiores referenciais literários da atualidade. Os mitos não morrem, eternizam-se em seu legado. Somos herdeiros do imenso patrimônio ético, moral e literário de José de Sousa Saramago. Estará em nós e nos que nos sucederem.

Namastê.

UM DIA DE CULTURA E DEVOÇÃO











13 de maio aconchegou diversas atividades ligadas à cultura Goiana. Foram três eleições: na União Brasileira de Escritores – Seção Goiás, na Academia Goiana de Letras e na Comissão Goiana de Folclore. Houve o lançamento do livro “Racismo à Brasileira: Raízes Históricas” do escritor Martiniano José da Silva. E, ainda, o vernissage “Tanta Maria: o culto a Nossa Senhora ao redor do mundo”.

A eleição da UBE-GO realizou-se em clima tranquilo. A chapa única “Um passo à frente”, pretende dar continuidade aos vários projetos em andamento. O atual presidente, escritor Edival Lourenço, foi reeleito por unanimidade, para o biênio 2010-2012. A Diretoria ficou assim constituída: Vice-Presidente, Brasigóis Felício; Secretário Geral, Valdivino Braz Ferreira; 1ª Secretária, Cecília Melo; 2ª Secretária, Ana Luísa Serra; 1º Tesoureiro, Bariani Ortencio e 2º Tesoureiro, Ubirajara Galli.

Na Academia Goiana de Letras, eleição acirrada. Concorreram à Cadeira nº 23, anteriormente pertencente ao poeta Helvécio Goulart, os escritores Iúry Rincon Godinho e Edival Lourenço. Foram necessários dois escrutínios para que se efetivasse a votação. No primeiro, não houve votos necessários (21) para a eleição de um dos candidatos. No segundo, sagrou-se vencedor o escritor Iúry Rincon Godinho que, recentemente, tomou posse da Cadeira nº 12 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, antes ocupada por José Luiz Bittencourt.

A Comissão Goiana de Folclore elegeu a diretoria que comandará seus passos no biênio 2010-2012. A eleição e posse ocorreram na residência do escritor Bariani Ortencio, seu presidente por mais de dez anos. Anteriormente, ele havia indicado esta articulista para presidir a Comissão. Mas, devido a questões de saúde, adiamos o projeto. Assumo, doravante, a 2ª Vice-presidência. A nova direção é composta pelo Presidente de Honra, Bariani Ortencio; Patronesse, Regina Lacerda; Presidenta, Fátima Paraguassú; 1º Vice- presidente, Jadir Pessoa; Secretária Geral, Isabel Signorelli; 1º Secretário Adjunto, Ladislau Couto; 2º Secretário Adjunto, Alice Spíndola e Tesoureiro, José Mendonça Teles.

O lançamento do livro “Racismo à Brasileira: Raízes Históricas” em 4ª Edição, do escritor e atuante articulista do Diário da Manhã Martiniano José da Silva, seduziu a noite daquele dia no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. O presidente Aidenor Aires recepcionou a comitiva da cidade de Mineiros, que veio prestigiar, cantar e encantar Martiniano e os convivas goianos. A sonoridade musical ficou a cargo de Claudimar Oliveira e dos Violeiros do Cerrado. O Grupo de teatro Theaomai, sob a direção de Toninho Gomes, apresentou uma adaptação da peça “Auto de Zumbi”, de Martiniano. Pe. Josias Dias da Costa, da Academia Mineirense de Letras, fez a apresentação do livro. Neiba Vasconcelos, prefeita de Mineiros, discorreu sobre a importância da pesquisa e do trabalho desenvolvido pelo autor, como Secretário de Cultura do município. Ao final do evento serviu-se farto, original e criativo lanche de comida alternativa, composto de alimentos característicos do cerrado: pães de jatobá, paçoca de amendoim enriquecida de multimistura.

“Tanta Maria: o culto a Nossa Senhora ao redor do mundo” faz parte do “Projeto Galeria à Vista”, da PUC Goiás, uma realização do Sistema de Bibliotecas da PUC, Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central/PUC Goiás e Instituto Bertran Fleury (idealizado e dirigido por Graça Fleury) proprietário do acervo de dezenas de imagens sacras de Maria. A mostra teve seu vernissage no lusco-fusco do dia, com apresentação de cânticos religiosos em louvor a Maria, por Antônio César Caldas, Goiana Vieira e Maria Ludovico. Permanecerá aberta ao público até o dia 02 de junho no Hall da Biblioteca Central da PUC Goiás. Viajamos pelo mundo, nos corredores da exposição que apresenta-nos histórias de doze lugares turísticos, suas relações com a Virgem Maria e o culto e exaltação à Santa: tantas Marias em uma só - a Mãe de Cristo.

O constante fluxo de peregrinos e devotos ao encontro da fé e da devoção tornou esses locais conhecidos mundialmente. A intimidade dos fiéis com a Santa Mãe deu-lhe vários epítetos. Quando se referem ao local de aparição, nomeiam-na N. Srª de Fátima, de Lourdes ou da Abadia. Quando sofrem ou se encontram em perigo, chamam-na N. Srª do Perpétuo Socorro, do Parto, das Dores, Auxiliadora ou da Boa Morte. Quando a relação dá ênfase a fatos ou curas, reverenciam-na como N. Srª da Cabeça, Desatadora de Nós ou da Pena.

Em nossas orações, pedimos sempre a Maria que interceda e rogue por nós. Ela nos propicia a comunhão mais íntima com Cristo.

Namastê.

O BAÚ CULTURAL DE CATELAN




Elizabeth Caldeira Brito

O homem não seria humano se fosse incapaz de apossar-se de sua vida. A forma mais autêntica para que isso ocorra é por meio da arte e do conhecimento que mobiliza, motiva e identifica o homem como um ser único, um indivíduo.
De voz privilegiada, conhecimento e cultura baseados nas origens do saber, Álvaro Catelan apoderou-se da vida. A arte e o saber o dominam, direcionam-no e o originalizam. Quer seja na pesquisa da cultura popular do Brasil, por meio do estudo e divulgação da música caipira, aquela que retrata a forma de viver dos que nos precederam e nos deram identidade, quer seja na elaboração temática de seu labor literário docente, envolvendo poesia, música, teatro, performances e pesquisa histórica.
Sobre Catelan publiquei neste espaço do Diário da Manhã do dia 16/10/2008 artigo sob o título “A benção Catelan. Teu sertão querido” onde manifesto meu repúdio em nome dos goianos: “... Retratando a realidade do homem simples do campo, a música caipira e a viola traduzem o perfil e a identidade do homem brasileiro: com seu trabalho, lazer, comportamento, dificuldades, sonhos, mitos, religiosidades, crendices e lendas, presentes em nosso inconsciente coletivo, através dos imensos quintais enluarados de nossas lembranças, nos banhos de rios e cachoeiras de nossos domingos virtuais, no cheiro do mato verde em nossa saudade e nos sonoros regatos, fluindo nas varandas de nossas recordações.
Todos os domingos pela manhã, mergulhávamos nestas memórias, sentindo o sertão dentro de casa e vislumbrando um ideal de preservação de nossa cultura, através do programa de Álvaro Catelan Cantos do Brasil e Recantos de Goiás, líder de audiência no horário das 7h às 9h, na emissora estatal RBC-FM, agora sob nova direção do radialista Paulo Francisco Ferreira, Gerente Geral e “modernizador” da empresa que é do povo e para o povo. Visando “optar para uma programação elitizada, classe A” determinou que fica proibido a execução de “música caipira” durante o dia, ceifando, esta magnífica iniciativa de resgate, preservação e difusão de nossas raízes por uma emissora governamental...”
Voltando ao tema de hoje, “O Baú do Drummond” nele, Catelan traz a lume a história poética do grande escritor Carlos Drummond de Andrade, desde sua pacata Itabira, até o contágio universal do lirismo drummoniano.
Catelan, poeticamente, trilha caminhos saudosos. Com linguagem multimídia, esmiúça a vida e a obra de Drummond. Passeia nos meandros políticos e sociais de uma época cuja atualidade é constante. Professor de literatura, Álvaro Catelan, mais que ministrar aulas: dramatiza textos, sobrevive temas, distribui fagulhas ao vento em shows performáticos poéticos. Desperta a platéia, numa trajetória contagiante de empoderamento, para um novo olhar lírico partidário. O show envolve vários alunos do Colégio Dinâmico: a direção teatral é de Monica Serpa, sonorização e iluminação de Areno, audio visual e imagens de Nicéias Leite e Akira Inamuro. Em “O Baú do Drummond”, Catelan semeia rosas e poesias sonoras, mas também tempestades e raios de luminosidades.
Por enquanto, os privilegiados em assistir ao show, que será apresentado de 22 a 24 de junho, é o corpo docente e discente do Colégio Dinâmico. Quiçá Catelan leve “O Baú do Drummond” ao grande público goiano.


Namastê.